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“Tuas ideias não correspondem aos fatos...”
Como assim, o que eu penso não é baseado nos fatos? Simples: o que você pensa e acredita está intimamente relacionado à sua vivência e experiências, e não a um fato isolado em si. Não acredita?

Antes de continuar, deixo aqui o crédito para essa frase, que pertence ao compositor Cazuza, na música O Tempo Não Para.
Seus julgamentos podem não corresponder aos fatos verdadeiros
Nossa percepção do mundo e das pessoas ao nosso redor não é objetiva. Pelo contrário, é filtrada por nossas vivências, crenças e experiências emocionais. Muitas vezes, interpretamos comportamentos alheios de maneira distorcida, projetando neles nossas próprias expectativas e inseguranças. O resultado? Uma sucessão de mal-entendidos e julgamentos precipitados.
O Julgamento Apressado e a Falha na Empatia
Imagine a seguinte situação: você cruza com um colega de trabalho no corredor, acena para ele e não recebe resposta. O que você sente? Irritação? Tristeza? Uma sensação de desprezo? A interpretação mais imediata pode ser: "Ele me ignorou de propósito. Que pessoa arrogante!"
Mas e se essa pessoa estiver tão imersa em seus próprios pensamentos que sequer percebeu sua presença? Talvez esteja enfrentando um problema pessoal, um dia difícil, ou até lidando com um transtorno como TDAH, que pode dificultar a percepção de estímulos externos em determinados momentos.
Esse tipo de julgamento equivocado acontece porque tendemos a interpretar o comportamento dos outros com base no que nós sentiríamos ou faríamos na mesma situação. Se valorizamos a cortesia, presumimos que a falta de um cumprimento é um sinal de rudeza. Se damos muita importância ao reconhecimento dos outros, podemos sentir rejeição onde há apenas distração.
A Influência da Nossa História Pessoal
A psicanálise, mostrou que nossas experiências passadas moldam a forma como enxergamos o presente. Se uma pessoa teve pais emocionalmente distantes, pode interpretar qualquer gesto frio dos outros como um sinal de rejeição, quando, na verdade, pode ser apenas a personalidade do outro ou uma circunstância momentânea.
Lacan nos ensina que a percepção da realidade é mediada pelo nosso próprio desejo—vemos aquilo que inconscientemente queremos ou tememos ver. Se carregamos inseguranças sobre nosso valor social, podemos distorcer as intenções alheias, enxergando desprezo onde há apenas distração.
Exemplos Comuns de Percepção Equivocada
- "Aquele atendente foi seco comigo. Deve ser mal-educado."
Talvez ele esteja apenas exausto após um dia longo de trabalho. Ou esteja lidando com um problema pessoal. - "Meu amigo não respondeu minha mensagem. Ele deve estar me evitando."
Pode ser que ele simplesmente tenha se esquecido ou esteja sobrecarregado com outras responsabilidades. - "Aquela pessoa nunca me chama para sair. Ela não gosta de mim."
Talvez ela seja introvertida, tenha dificuldade em tomar a iniciativa ou esteja passando por um período difícil.
Tenha humildade e reconheça que não é o único a enfrentar dificuldades. Outras pessoas também carregam seus próprios conflitos e desafios, muitas vezes invisíveis aos olhos alheios.
A filosofia existencialista nos ensina que cada pessoa habita um mundo subjetivo único. Sartre dizia que o Outro sempre nos escapa—nunca podemos conhecê-lo completamente, pois sua vivência é diferente da nossa. Por isso, o ato de julgar com rapidez é sempre um risco.
O antídoto para essa distorção da percepção é a humildade da dúvida. Em vez de reagirmos automaticamente, podemos nos perguntar: "Será que minha interpretação está correta? Existe outra possibilidade?" Essa pequena pausa pode evitar ressentimentos desnecessários e construir relações mais empáticas.
No final, perceber que não somos o centro da narrativa dos outros é libertador. As pessoas estão lidando com suas próprias histórias, seus próprios desafios. Nem tudo é sobre nós. E, muitas vezes, aquilo que parece um desprezo, um ataque ou uma indiferença, nada mais é do que a simples condição humana: cada um carregando, à sua maneira, o peso invisível da própria existência.